Como a internet está roubando a infância: o perigo da adultização digital
- Carol Santos
- 12 de ago.
- 4 min de leitura
Atualizado: 13 de ago.
A infância sob ataque silencioso
Era para ser só um vídeo de comédia, mas o youtuber Felca decidiu usar sua plataforma para falar sério — muito sério.No dia 6 de agosto de 2025, ele publicou o vídeo “Adultização”, que em poucos dias ultrapassou 27 milhões de visualizações, denunciando casos alarmantes de sexualização infantil e a forma como a internet tem transformado a infância em algo cada vez mais curto e vulnerável.
O que ele mostrou não foi exagero: crianças com maquiagem pesada, roupas sensuais, danças de conotação sexual e, pior, adultos incentivando, gravando e compartilhando tudo para milhões de seguidores.Esse fenômeno tem nome — adultização digital — e está acontecendo bem debaixo do nosso nariz.
Se você é pai, mãe, responsável ou simplesmente alguém que se importa com o futuro das próximas gerações, precisa entender o que está por trás desse problema e como agir antes que seja tarde demais.
O que é adultização digital?
A adultização digital é o processo em que crianças e adolescentes passam a adotar comportamentos, linguagens, estilos e preocupações típicas da vida adulta muito antes do tempo.Isso inclui desde o uso de roupas e maquiagens sensuais até o consumo e produção de conteúdos com conotação sexual, violenta ou emocionalmente complexa demais para a idade.
Se no passado a infância já era encurtada por pressões sociais, hoje a internet acelerou o processo a níveis preocupantes.Com um celular na mão, uma criança de 8 anos pode ser exposta — e até incentivada — a conteúdos que deveriam ser restritos para maiores de idade.
O papel das redes sociais: um terreno fértil para a adultização
As redes sociais, especialmente as plataformas de vídeo curto, têm um papel central nesse fenômeno.
Algoritmos que viciam: conteúdos com maior engajamento, mesmo que inapropriados, são impulsionados e entregues de forma repetida.
Desafios e trends perigosas: muitas brincadeiras virais exigem comportamentos ou trajes sexualizados, e as crianças entram para “não ficarem de fora”.
Normalização da exposição: influenciadores adultos, e até familiares, postam vídeos de crianças em situações “engraçadas” ou “fofas” que, para um público adulto mal-intencionado, podem ter outra leitura.
O que Felca revelou: casos reais e choque nacional
O vídeo do Felca, além de escancarar essa realidade, mostrou casos concretos, incluindo o do influenciador Hytalo Santos, que tinha milhões de seguidores e postava conteúdos sexualizando menores.Após a repercussão, seu perfil foi desativado pelo Instagram e ele passou a ser alvo de investigações do Ministério Público da Paraíba (iniciadas ainda em 2024).
A denúncia do Felca gerou uma comoção nacional:
Sete Projetos de Lei foram protocolados na Câmara dos Deputados, propondo a criminalização da adultização digital e medidas de prevenção — alguns apelidados de “Lei Felca”.
Deputados pediram CPI e audiência pública com representantes das plataformas, Polícia Federal e Ministério da Justiça.
Celebridades como Glória Perez, Claudia Leitte e Felipe Neto manifestaram apoio ao youtuber.
Felca revelou que passou a receber ameaças e precisou reforçar sua segurança.
Esse impacto político e social mostra como uma denúncia bem feita pode acender um debate urgente.

Consequências emocionais e sociais da adultização digital
Os efeitos dessa exposição precoce vão muito além da perda da inocência. Estudos indicam que a adultização pode gerar:
Ansiedade e depressão em idades cada vez mais baixas.
Distorção da autoimagem e autoestima, com crianças se comparando a padrões inalcançáveis.
Dificuldades de socialização, já que comportamentos e expectativas deixam de ser compatíveis com a idade.
Maior vulnerabilidade a abusos, pois a exposição online facilita o contato de predadores digitais.
Sinais de que seu filho pode estar sendo adultizado
Se você notar alguns desses comportamentos, é hora de ligar o alerta:
Uso frequente de roupas e maquiagens adultas.
Interesse por conteúdos com temas sexuais ou violentos.
Repetição de frases, danças e poses típicas de adultos nas redes sociais.
Preocupação excessiva com aparência e status online.
Isolamento ou mudanças bruscas de humor após uso da internet.
Como proteger a infância em tempos digitais
A boa notícia é que existem ações práticas para minimizar a exposição e proteger o desenvolvimento saudável da criança:
Acompanhe o uso das redes sociais — saiba que apps e conteúdos seu filho consome.
Defina limites claros — tempo de tela, horários e tipos de conteúdo permitidos.
Converse sobre riscos — explique, de forma adequada à idade, por que certos conteúdos e comportamentos não são apropriados.
Seja exemplo — evite postar imagens ou vídeos que exponham a criança de forma constrangedora.
Denuncie conteúdos impróprios — use as ferramentas das plataformas e, se necessário, acione órgãos competentes.
Estimule atividades offline — esportes, hobbies e convívio social presencial.
Por que esse debate não pode esfriar
O vídeo do Felca não é apenas mais um viral — é um alerta coletivo. A internet não vai desacelerar, mas nós podemos criar barreiras de proteção, educação e conscientização.A infância não é uma fase que podemos “recuperar depois”. Ela é única, formadora e essencial para que adultos saudáveis e emocionalmente equilibrados existam no futuro.
Se ficarmos em silêncio, a adultização digital continuará se infiltrando nas casas, nas escolas e nas redes sociais — e só perceberemos quando for tarde demais.
Conclusão
O que está em jogo não são apenas curtidas, views ou tendências.Estamos falando de vidas reais, de crianças que precisam viver o que é ser criança.A responsabilidade é de todos: pais, educadores, legisladores, plataformas e sociedade.
Assim como Felca usou sua voz para expor um problema, cada um de nós pode fazer a sua parte.A infância não pode ser negociada — e muito menos roubada.
Compartilhe este artigo para que mais pais e responsáveis entendam os riscos da adultização digital e ajudem a proteger o futuro das nossas crianças.
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